Área que teve a vegetação suprimida pela mineradora – Google Maps.

 

Suspensão das operações da Sandra Mineração Ltda. ocorre após fiscalização da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) encontrar cavidades que não constavam nos estudos da empresa

As operações da Sandra Mineração Ltda. foram embargadas pela Fundação Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais (Feam) no município mineiro de Prudente de Morais, a cerca de 70 km de Belo Horizonte. Localizada na histórica Fazenda Escrivânia, a Mina de Limeira se tornou o epicentro de uma série de polêmicas devido a extração de calcário em uma área que conhecida por ser cenário de importantes achados do dinamarquês Peter Lund, o “pai da paleontologia brasileira”.

O embargo foi motivado pela descoberta de cavidades naturais subterrâneas que não constavam nos estudos apresentados pela empresa. A Feam impôs restrições rigorosas a uma área de 250 metros ao redor dessas cavidades, acompanhadas de multas. A região em que o empreendimento está localizado abrange uma área rica em reservas calcárias, incluindo 122 cavernas, das quais 64 são de alta relevância e 18 de máxima relevância. De acordo com o licenciamento ambiental obtido anteriormente pela mineradora, as atividades previstas podem causar impactos negativos irreversíveis em 21 cavidades, sendo 17 delas de alta relevância, fora as cavernas que não estavam contempladas pelos estudos.

O professor de geografia Eduardo Teixeira enfatiza o valor científico e educativo da região. “A Fazenda Escrivânia é um verdadeiro laboratório a céu aberto. Com 27 sítios arqueológicos, oferece uma experiência educacional única, permitindo que estudantes vivenciem a história e a ciência de forma prática. Considerar a região sob a perspectiva científica revela sua relevância paleontológica e arqueológica, especialmente devido aos achados do naturalista dinamarquês Peter Lund, que fez do Brasil o seu campo de estudo principal. Lund explorou mais de 800 cavernas, coletando cerca de 12.000 peças fósseis, das quais 40% foram retiradas da Escrivânia. Isso demonstra o valor inestimável desse local, que continua a ser uma fonte de conhecimento sobre a história da ocupação humana e a evolução da biodiversidade na região”, afirmou.

Teixeira aponta os potenciais turísticos e pedagógicos da área, que vão além de sua relevância científica. “A Fazenda Escrivânia oferece uma oportunidade única para atividades educacionais, permitindo que alunos e pesquisadores vivenciem diretamente o ambiente de estudo. Em 2017, desenvolvemos um projeto com estudantes do ensino médio da Escola Estadual João Rodrigues da Silva, explorando o potencial turístico das regiões cársticas de Prudente de Morais. Visitamos sítios arqueológicos e cavernas, proporcionando aos alunos uma experiência concreta de aprendizado que se estende pela geografia, história, biologia e outras disciplinas. Essa interação direta com o ambiente natural torna-se um valioso recurso pedagógico e uma forma de incentivar a conservação e o respeito pelo patrimônio natural e cultural”, completou.

Vizinhança incômoda

Desde 1997, a Mina Limeira tem sido alvo de controvérsias e preocupações. Não é a primeira vez que a operação de mineração no local é paralisada. Há quase 30 anos, a empresa enfrenta repetidas interrupções devido a falhas no cumprimento das normas ambientais e o empreendimento é constantemente questionado. Hoje, a proximidade das operações da Sandra Mineração com o Condomínio Portal do Horizonte levanta preocupações entre os moradores sobre a segurança e os impactos ambientais. As atividades de extração de calcário suscitam questões sobre a segurança, qualidade de vida e preservação ambiental na região.

Além das perturbações sonoras e poeira, existe o temor de que as vibrações resultantes das explosões possam comprometer a integridade estrutural das casas vizinhas, como destaca o engenheiro Philippe Weyland, morador de um condomínio que fica ao lado da Mina Limeira. “Nós compramos aqui há três anos. O intuito é ter um lugar tranquilo no meio da natureza. Um ano depois chegou a notícia do, da mineração e para nós foi um choque”, disse.

Fiscalização ambiental

A Fundação Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais (Feam) embargou as operações da Sandra Mineração Limitada após uma fiscalização ambiental. O centro dessa decisão está na análise rigorosa das áreas próximas às atividades de extração de calcário na Mina de Limeira.

A medida foi tomada após a aprovação de um requerimento na Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que solicitou à FEAM uma fiscalização detalhada no projeto Mina Limeira, com ênfase na auditoria do processo de licenciamento (Certificado de Licença nº 2.112; Processo Administrativo Licenciamento nº 2.112/2023). O pedido destacou a importância de examinar os critérios utilizados para avaliar as cavidades naturais e a adequada definição das áreas de influência, abrangendo tanto a Área Diretamente Afetada (ADA) quanto a Área Indiretamente Afetada (AID).

A Feam se pronunciou por meio de nota. Confira na íntegra:
A Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) informa que determinou o embargo parcial da operação da Sandra Mineração Ltda., na Fazenda Escrivânia, em Prudente de Morais, após fiscalizações ambientais identificaram cavidades naturais subterrâneas próximas ao empreendimento citado, que não constavam nos estudos apresentados no processo de licenciamento ambiental.

Além do embargo, que atinge uma área de 250 metros ao redor das cavidades, e que seguirá em vigor até que a situação ambiental seja regularizada, a Feam ainda aplicou multas, conforme prevê a legislação vigente. 

Por fim, a Fundação reforça seu compromisso com a fiscalização e a proteção do patrimônio espeleológico, garantindo o cumprimento da legislação ambiental em Minas Gerais.

A Sandra Mineração Ltda. foi procurada para que pudesse se posicionar, mas até o fechamento deste conteúdo, não retornou o contato.

Assista a reportagem veiculada no canal Bastidores da Mineração: https://youtu.be/fpobA5hPoaM?si=3iHEE0sea2gMgOyT

comentários